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sábado, 3 de setembro de 2011

O Génio Maligno: René Descartes


O que está ao abrigo da dúvida?
O argumento cartesiano do sonho sugere a possibilidade de que a nossa vida seja um sonho (porque não podemos racionalmente excluir, de modo definitivo, a hipótese — remota, sem dúvida —, de que estamos a sonhar). Um dos primeiros exemplos que nos ocorre avançar para contrariar esta possibilidade é uma das mais simples operações aritméticas: 2+2=4 é uma proposição verdadeira, quer estejamos a dormir quer estejamos a sonhar, não é verdade? É possível que não seja verdadeira? Descartes pega justamente nesta possibilidade, radicalizando mais a dúvida: não seria possível existir um génio maligno todo-poderoso (assim como uma espécie de deus maligno) capaz de nos enganar sistematicamente, mesmo naquilo que consideramos óbvio? Se um hipnotista consegue induzir, em muitas pessoas, os estados mentais e as crenças mais extravagantes — como, por exemplo, levar alguém a contar até 10 sem se aperceber que saltou o 4 —, mais facilmente o faria um génio maligno, se tal ser existisse.
Assim, pois, uma crença do género da proposição 2+2=4 (que tomamos por ‘obviamente verdadeira’) poderia ser falsa, se o génio maligno nos enganasse sistematicamente.

Paulo Lopes