Imagine
que o supercomputador é tão avançado e eficiente que logra fazê-lo crer que
está sentado a ler estas palavras sobre o divertido e tresloucado cenário de um
cientista que é capaz de retirar o cérebro de uma pessoa e colocá-lo numa cuba
com nutrientes! Sempre há gente com uma imaginação! — pensa o leitor, com um
sorriso complacente ou impaciente.
Se porventura o leitor for um cérebro numa
cuba (hipótese que, aparentemente, não consegue excluir), então a maior parte
das suas crenças sobre o mundo terão que ser falsas.
Tal como Descartes, porém, Putnam faz o
papel de advogado do diabo — e, convenhamos, que engenhosa armadilha lançaram
aos céticos! Mas agora, diriam eles — a machadada final ou o golpe de
misericórdia nas ambições do cético, conforme as sensibilidades —, temos que
pôr fim à brincadeira e mostrar que este cenário é incoerente. Putnam lança-se
afoitamente à tarefa (se o leitor fosse um cérebro numa cuba, se
pudesse saber que é um “cérebro numa cuba”, então a ilusão em causa seria ao
mesmo tempo verdadeira! Ou seja: “se sou um cérebro numa cuba, então ‘sou um cérebro
numa cuba’ é falso").
Parece-lhe convincente? Há quem tenha reservas.
Mas há que reconhecer que consegue, pelo menos, mostrar que um cérebro numa
cuba não poderia ter a crença (saber) que é um cérebro numa cuba.